terça-feira, 20 de abril de 2010

IT Victim IX

Prometi ao padre que não iria mais desligar o telefone quando aparecesse "mãe" no identificador de chamadas...

- Alô! Oi, filha. Em casa outra vez?
Rangi os dentes. Lembrei do padre. Voz doce.
- Oi, mãããeee! Tudo beeeem? Estou trabalhando em casa, lembra?
- Pode se abrir, minha querida. Foi demitida, não é?
- Eu já expliquei para a senhora. Home Office. Computador, mãe! Internet, scanner, email, webcam, smartphone, messenger!
- Sei, sei, essas modernidades... Escuta! Vou te dar um conselho.
- Fala, mãe.
- Faz um currículo num papel bem bonito. Lilás. Mas compre envelopes brancos. São clássicos. Coloca um pouquinho de talco dentro. Gente de RH adora papel perfumado.
- Papel, mamãe! Santa banda larga! Eu estou t-r-a-b-a-l-h-a-n-d-o. Posso te ligar mais tarde?
- Ella, sei que você tem seus brios, nunca quer dar o braço a torcer. Mas não precisa disfarçar mais. Sou sua melhor amiga, filhota.
- Não parece. A senhora não presta atenção no que eu falo.
- Eu vou até aí.
- Não vai dar.
- Vamos até a papelaria.
- Muito obrigada, mãe.
- Compraremos um papel de boa gramatura.
- Não posso.
- Você vai ficar mais animada. Levo a minha Olivetti. Ajudo a datilografar seu currículo.
- Irei a uma reunião no escritório.
- É a rescisão, né filha? Entendo.
Perdi a paciência. Surtei. Gritei:
- Mãe! Não é possível que a senhora não conheça ninguém que trabalhe em casa!!!
- Conheço, sim. A vendedora de catálogos. Então é isso que você está tentando me dizer! Meu Deus! Seu pai vai morrer de desgosto, filha! Estudou tanto para virar vendedora de “tapauér”!

segunda-feira, 19 de abril de 2010

IT Victim VIII

“Nivalda! Tem um garoto no portão!” “É o técnico do computador, senhora.” “Imagina, Nivalda, esse moleque?” “Mostrou o crachá, senhora.” Deixei entrar. Sentou. Sentei ao lado. Ligou o PC. “Está vendo? Trava tudo e fica reiniciando. Aposto que foi aquele email da minha chefe!” Começou a apertar uma tecla só. Várias vezes. “Vai iniciar em modo de segurança?” - perguntei. Ele me olhou. Continuou. “Essa tela é a do prompt de comando?” “É, dona.” “Precisa apagar aquilo?” Me olhou torto. “Tá dando certo?” “Vamos ver agora quando reiniciar, senhora.” “Reiniciar!? Santa banda larga! VoCê sabe o que está fazendo? Não posso perder nenhum arquivo, entendeu? O que é isso na tela?” “Por acaso a senhora manja de linguagem de baixo nível?” “Claro, porra!” Paguei. Ele foi embora rindo.

domingo, 11 de abril de 2010

IT Victim VII

"Agora pula aqui dentro desta caixa, filho!" "Tube, mamãe!" "Daqui a pouco a gente vê o gatinho outra vez. Vem na minha direção. Isso! Bota o pezinho aí. Faz assim com a mão que eu estou filmando tudo. Agora: um, dois, três e...! Nãããããooooo! É pra se jogar, filho!" "O pé, mamãe! O pé!" "Que foi? Machucou o pé?" Santa banda larga! Sábado. Meu marido desceu pra tomar café da manhã. "O que você está fazendo, amor?" "Você disse que eu tinha comprado minha filmadorinha pequerrucha, linda, à toa. Pois vou colocar um vídeo do Bruninho no YouTube." "O quê?" "É, querido. Ele está imitando aquele gatinho fofo, mega acessado." "Está maluca? Expor a criança desse jeito?" "Deixa de ser antiquado." O Bruninho agarrou na perna dele, apelando: "O pé, papai!" "Deixa eu ver. Machucou, filhão?" E eu: "Para com frescura, Bruninho. Não tem nada no seu pé. Vamos filmar! Olha pra caixa... assim... Levanta o bracinho. Um, dois, três e......" Saco. "Ele caiu de novo, querida. Não chora, filhão, vamos brincar lá fora." O estraga-prazeres levou o moleque para brincar no jardim. Chutei a caixa longe. Não desisti. Entrei na internet e fiquei olhando as acrobacias do Maru. À tarde, enquanto meu marido cochilava, peguei a câmera e o Bruninho e fui para a cozinha. "Vai, filho! Pula! Assim! Vamos ficar famosos, Bruninho. É isso mesmo, Andy Warhol da mamãe. Entra aí. Uma perninha, agora a outra. Agacha. Fecha a tampa do baldinho, filho! Lindo! Tá igualzinho o gato! Proooontooooo, já pode sair daí. Pode sair filho. Sai, filho! Já parei de filmar, levanta! Opa. Benhê! Benhêêêêêêê! Corre aqui amor! Depressaaaaaaaaaaa! O Bruninho ficou entalado no balde!"

quarta-feira, 7 de abril de 2010

IT Victim VI

Fui para o interior de São Paulo a trabalho. Não tive escolha. Liguei para minha madrinha de crisma. Ai de mim se ela soubesse que passei por lá sem vê-la. Convidou-me para pousar. Aceitei, nervosa. Ela apelou: “Fica no fim de semana!” “Não posso madrinha, o Bruninho ficou com uma babá, lembra?” Começou a contar histórias. Ri e chorei. Rabo de olho ali, na tela do laptop. No pôr-do-sol ela foi dormir. Fiquei trabalhando. Oito, nove, dez horas. Às onze da noite, minha chefe entrou no Messenger: “Temos que rever este orçamento. Mandei pro teu email.” Fui dormir uma da manhã. Antes disso, liguei para a babá. Em seguida, falei com a minha mãe. Por último, um torpedinho para meu marido. Estava cansada, ia ficar. No sábado, às sete, ela me chamou para o café. Praguejei em voz baixa. A mesa farta de quem acordara às cinco me deixou com remorso.

“Vamos à igreja?” “Igreja, madrinha?” “Hoje tem confissão, querida.” “Comunitária?” “Individual. Vou me aprontar enquanto você toma café.” Fiquei ali na mesa, prostrada. Voltou cheirando a talco, com um livrinho pequeno, amarelado, amarrado com uma fita branca. “Sei que você é praticante, mas é só para o caso de você esquecer uma parte do Ato de Contrição.” E eu, que não pisava numa igreja católica desde o crisma: “Não precisa, madrinha. Sei de cor.” Ela colocou o livro na minha mão. ‘Faço questão.” Sua casa era na mesma quadra da igreja. Fomos a pé, de braços dados. Fiquei emburrada. Sinal da cruz e sentamos nos bancos da lateral. Algumas senhoras com véu na cabeça aguardavam.”Ajoelha e faz o exame de consciência.” Obedeci sem pensar. Depois xinguei por dentro. Fiquei ajoelhada por mais de meia hora. A claridade era pouca. Silêncio. Meus joelhos começaram a doer. Sentei. O que aquelas velhas poderiam ter feito de tão grave para demorar tanto? Santa Banda Larga! Que raiva! Um cutucão: “Sua vez.” Apontou o minúsculo confessionário de madeira escura. Entrei possuída. “Padre, aqui tudo é segredo, ?” “Sim, minha filha. Eu te conheço?” “Não, padre, eu sou de São Paulo.” “Vamos rezar o Ato de Contrição, filha.” “Eu não sei, padre!” “Página 36 do livrinho.” Me atrapalhei com aquela fita. Que ódio!

Li o raio da oração e disparei: “É pecado baixar música da Internet sem pagar?” “Como, minha filha?” “Padre, eu compro tudo o que vejo de novidade pela internet, só para fazer inveja para as minhas amigas!” Ele pigarreou. “Prossiga...” “Eu jogo pilhas, cartuchos e baterias no lixo comum. Eu deixo a torneira aberta enquanto escovo os dentes. Eu não respeito o rodízio municipal. Eu desperdiço comida. Deixo todas as luzes da casa acesas ao mesmo tempo” “Fale mais.” “Padre, eu uso o Google ao invés do Blackle.” “Compreendo, filha...” “Eu estaciono em vagas reservadas para deficientes. E tenho detector de radar no carro.”

A aparente serenidade do padre estava me deixando louca. “Eu tenho um monte de celulares, uns sete cartões de crédito, GPS, leitor de código de barra, dezenas de utilidades domésticas super modernas, TV’s enormes espalhadas pela casa, pago fortuna por internet rápida, a cabo, sem fio, tenho ar condicionado na casa inteira, no carro, tenho computador, notebook, laptop, palm e acho pouco, padre!” “Continue.”

Eu já estava agarrada na grade de madeira que nos separava, tentando ver a cara dele. “Espiono minha empregada, meu marido e meu filho pela webcam! Todos os dias. Coloquei câmera até na garagem! E tem mais!” A voz do padre se alterou: “Tem mais, criatura?” “Eu falo mais com o meu marido por MSN, email e SMS, que pessoalmente. Isso é pecado, padre?” “Bem, minha filha...” “Espera, padre. Eu compro CD pirata.” “Mais alguma coisa?” “Eu sigo o Rick Martin pela blogosfera, twitter, youtube, facebook e onde mais eu puder achá-lo! Estou bravíssima com o Rick, mas ele é meu ídolo!” O padre respirou fundo. “A última coisa, padre...” “Conta logo minha filha, vamos!” “Já chutei macumba virtual!!!”

Abri a cortininha. Acenei para minha madrinha. Era a vez dela. Entreguei-lhe o livro sem a fita. Fui para a frente da igreja. Leve. Ajoelhei e comecei a rezar os doze Pais-Nossos e as dezesseis Ave-Marias.

terça-feira, 6 de abril de 2010

IT Victim V

Metrô lotado. Desci na estação Consolação e resolvi caminhar até o escritório. Calor demais. A agenda cheia de cartões de visita pesava um pouco. Trânsito caótico, buzinas, fumaça. Fumaça demais. Uma paradinha no orelhão. O telefone da minha cunhada estava ocupado. Tentei mais uma vez. A ficha não caiu. Puxei o gancho e ela veio, tilintando. Quente. Arrumei o esparadrapo que coloquei em cima da bolha, no calcanhar. Mostrei o crachá para o porteiro. Autorizou. Elevador revestido com fórmica branca. Alguém riscou um palavrão perto do número do meu andar. Bati o cartão. Vinte e dois de março de 2010. Duas pilhas imensas de papel sobre a minha mesa, bem ao lado da máquina de escrever. Não pude nem ligar o ventilador. Praguejei. Fui beijar o porta retrato com a fotografia do Bruninho e vi o gravador com a fita cassete da reunião de ontem. Achei que minha chefe ia pedir para aquela outra transcrever a fita no livro de ata. Sobrou pra mim outra vez! Vacas. Levantei e passei pelo arquivo. Comecei pela gaveta 21A, depois 36 e 50B. Mais de cem delas. Pastas suspensas cor de burro quando foge. Pastas demais. Por cima do arquivo, as poliondas verdes empilhadas. Eu suava. Na copa, o bebedouro vertia água morna, com gosto de cano. Voltei para a mesa, irrequieta. O couro da cadeira grudava na minha perna.

Pedi a linha externa para a telefonista. Demorou um bocado. “Alô? Cunhadinha? Oi! Como? O PABX está ruim! Linha cruzada? Alô? Alôôô?” Caiu a linha. Mãos úmidas. A chefe veio com mais papéis. “Tira xerox e manda por fax o que der. O resto manda pelo correio. Ainda tem selos?” O suor desceu pelas minhas costas. “E você vai precisar ir ao banco depois do almoço.” Senti palpitação. “São contas pessoais minhas. Só confio em você. Quero tudo autenticado e carimbado no caixa. Passa na minha sala quando for descer e pega o cheque”. Vertigem. Cabeça girando. Ligo para o meu marido. Preciso ir para casa. Calor! Calor! Ele tenta me entender: “LP de quem? Não existe esse disco, meu amor... Livin’ o quê? La Vida Loca? Nunca ouvi falar, mas posso te levar na Galeria do Rock no sábado. Você está bem?” Bati o telefone na cara dele, comecei a tremer, chutar, me debater, fui virando e... PÁ! Caí da cama, assustada. “Nivaldaaaaaa!!!!” Gritei, tonta de sono. Ela veio correndo: “Sim, senhora?” “O Rick Martin existe, né?” “Existir ele existe, mas a senhora soube que ele é...” “Cala a boca, Nivalda! Isso eu resolvo com meu psicanalista!”

segunda-feira, 5 de abril de 2010

IT Victim IV

O Palm apitou logo cedo. Era aniversário do meu pai. 14 de janeiro. Como passou rápido! A verdade é que não nos falamos direito desde o Natal. Mas vou até lá. Faço questão. Peço desculpas e levo um presente.

Estou trabalhando em casa. E confesso que adoro esta história de home based. Faço meu horário. Almoço em casa. Não pego trânsito. Minha chefe me segue o dia inteiro. Me chama no Nextel às oito horas da manhã. Vê se estou conectada. Videoconferência. Celular. Messenger. Email. Twitter. SMS. Perseguição! Meu marido fala que é paranóia minha. Mas ela só para quando me liga da casa dela, pra perguntar se já resolvi aquele último probleminha.

Tive que dar um jeitinho. Meu pai dorme com as galinhas! “Alô, chefinha? Vou buscar um material na gráfica. Não demoro. Pode deixar que eu levo o celular, sim. Está bem, levo o rádio. O notebook? Levo também. Claro que ligo quando chegar.” Vaca.

Fui para o carro carregando toda a minha parafernália. Programei o GPS e liguei o piloto automático. O meu. Não consegui prestar atenção no caminho. Fiquei lembrando do Natal. Meu pai estava lindo. Ainda tinha o porte de promotor público. Aposentou. Ombros retos. Calça social com duas pregas, que acabara de buscar no alfaiate. Sapato italiano de pelica. Camisa de linho. Ele mesmo tinha se encarregado de todos os detalhes. Peru enorme. Árvore de natal. A minha mãe me cutucou: “Coloca os presentes embaixo da árvore.” Enquanto isso o Bruninho tentava arrancar um festão que emoldurava a janela.

Exatamente à meia-noite, nos cumprimentamos. O Bruninho entregou o presente do meu pai. Ele corou. Os olhos lacrimejaram. Só até abrir o embrulho. “O que é isso?” “Uma máquina digital, pai.” “Minha filha, gastando um dinheirão com essas bobagens?” “Bobagens? O senhor sabe quantas fotos cabem na memória dessa máquina? Mais de mil!” “E pra quê tudo isso? Basta um filme de 36 poses bem tiradas!” “Filme? Isso não existe mais.” Meu marido me segurou pelo braço. Papai continuou. “Eu tenho a melhor máquina fotográfica que existe, minha Leica.” “Isto está ultrapassado, pai!” Continuou sem me ouvir: “Além do mais adoro ir ao centro da cidade, ali atrás do Mappin, na Rua Conselheiro Crispiniano. Compro meu filme profissional, depois mando revelar. É um ritual.” “Mappin! Mappin!” E ele prosseguiu, impávido: “Com essas modernidades, ver fotos virou tortura. Um bando de cabeças apinhadas na frente de uma tela. Três horas seguidas de fotos de qualquer coisa, até de tampa de bueiro. Quem agüenta?” Fiquei calada. Ele não parou: “Hoje, qualquer pessoa, qualquer paisagem, qualquer coisa fica bonita depois da foto ser violentada por computador. Cartier-Bresson deve estar se revirando no túmulo! E aqui em casa não tem onde passar essas coisas.” Olhei para a minha mãe. Nervosa. “Eu ia dar um laptop para a senhora continuar datilografando seu poemas, aí é só colocar as fotos e...” Mamãe caiu sentada no sofá, passando mal: “Minha Olivetti nãããããããõooooooo!!!!!!”

Estacionei em frente ao portão. Minha mãe veio abrir o cadeado. “Não está trabalhando hoje, filha?” Expliquei. Não comentou. Soube depois que ela disse para o papai que achava que eu tinha sido demitida. Subi rápido no sobradinho. Dei um grande beijo no velho. Pedi desculpas. Entreguei-lhe um pacote: “Meias, filha! Estava mesmo precisando.” Me abraçou, sincero.

segunda-feira, 29 de março de 2010

IT Victim III

“Pode falar agora, amor?” Tinha vergonha de usar o celular no carro, mas estava tão excitada pra contar a novidade para o meu marido, que não resisti. “Fiz uma loucura hoje! Está escutando? Mandei um torpedinho para aquele meu amigo de Emeryville. Como qual, meu bem? Aquele do estúdio de animação, na Califórnia. Na hora do almoço fui para o shopping com o notebook e sentei naquele café. Isso! O do wireless! Tomei só um hot chocolate e ele entrou no Skype. Meu foninho da Madonna é tudo nessas horas. Imagine eu, ali no cantinho, combinando em voz baixa como ele me mandaria a versão do desenho na í-n-t-e-g-r-a, com várias cenas inéditas!!! Ninguém tem! Como qual desenho, meu amor? O do escoteiro e do velhinho. Aquele que a casa voa com balões! Não vê que não posso falar tudo? E se meu celular estiver sendo rastreado? Paranóica? Eu? Escuta! Você vai lembrar, é aquele que fomos ver em 3D, mas o Bruninho jogou o óculos no senhor da poltrona da frente. Deu aquela confusão. Lembrou? Então presta atenção! Me senti uma verdadeira traficante internacional. Ele conseguiu pra mim. Pediu sigilo absoluto da fonte com pena de ser demitido. Baixei logo depois, do escritório mesmo. Ninguém percebeu. Santa banda larga! Estou aqui com um pendrive douradinho de muitos gigas. Já disparei um SMS para minhas amigas do escritório. Elas vem em casa com os filhos. Domingo, amor! Cinepipoca. Inclusive minha chefe. A Vaca Profana vai morrer de inveja!!!! Espera! Um marronzinho, te ligo depois.”

Cheguei em casa agitada, larguei tudo no sofá. Pipipipipi. No Nextel uma amiga já confirmava a presença com os dois filhos. Olhei para o home theater. Dei um beijinho na minha telona de LED. Fininha! Linda! O celular tocou: “Dona das divinas tetas, derrama o leite bom na minha cara, e o leite mau na cara dos caretas...” “Alô? Chefinha? Você vem com o Fabinho? Que boooooommm. Domingo, às quatro. Confirmadíssimo!”

Comecei a procurar a entrada USB da televisão. Vasculhei cada cantinho. Olhei de novo. Passei o dedo por toda a lateral. Virei a TV de costas. Olhei na base. Abri a única tampinha que tinha. Nada! “Alô? Você pode falar agora! Eu sei que pode, querido! Cadê a entrada USB da nossa TV? Como não tem? Tem que ter!!! Tem que ter!!! Vem logo pra casaaaaaaaaa!!!!”

A empregada buscou o Bruninho na escola. Ficamos brincando até tarde. Muito tarde e nada do papai chegar. Coloquei o moleque no berço, meio torta. Meu braço doía de tanto tentar fazer o Super Mario voar no Wii. Fui deitar, brava.

Ouvi quando ele chegou e abriu o portão eletrônico. “Está acordada, querida?” “Mais ou menos.” “Vem cá, vem, minha gostosura? Que camisolinha sexy.” “Só depois...” “Só depois de quê? Cheguei cheio de saudades!” “Só depois que você encontrar a entrada USB da televisão!” “O quê?!? Pára com isso, dá um beijinho...” Sentei na cama: “Presta bem atenção: você tem até domingo pra resolver isso!” “Mas, meu bem...” “ Se me quiser é isso mesmo. Eu não vou passar vergonha na frente das minhas amigas. Muito menos da minha chefe!!!!” Deitei, virei para o lado e fingi dormir.